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Histórias para Crianças

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Uma “proeza” de Frei Junípero

Armado de uma grande faca de cozinha, frei Junípero saiu para o bosque vizinho, procurando aliviar os sofrimentos de um irmão doente. Horas depois, um lavrador embravecido golpeava a porta do convento.

Elizabeth MacDonald.JPGElizabeth MacDonald

Frei Junípero, um dos primeiros discípulos e companheiros de São Francisco de Assis, não conseguia manter-se em silêncio quando era repreendido ou quando alguém lhe fazia uma observação desagradável. Para se corrigir desse defeito, fez o propósito de, durante seis meses, não dar réplica nem mesmo às mais pesadas injúrias que lhe fossem eventualmente feitas.

Essa luta contra si mesmo lhe custou grandes sacrifícios. Certa vez, ao ser insultado de forma brutal, ele fez um tal esforço para se conter que sentiu subir-lhe aos lábios uma golfada de sangue que jorrava de seu peito.

Nesse dia, muito aflito, o bom frade entrou numa igreja, prostrou-se diante de um crucifixo e exclamou:

- Vede, meu Senhor, o que suporto por amor a Vós!

Então, cheio de temor e encanto, viu o divino Crucificado despregar do madeiro a mão direita e colocá-la sobre a chaga aberta pela lança do centurião, ao mesmo tempo que lhe dizia:

- E Eu, o que suporto por amor a ti? Profundamente emocionado, Junípero era outro homem ao se levantar. Ele, que antes não conseguia aturar sem sofrimento qualquer pequena injúria, passou a receber com alegria as mais graves ofensas, como se fossem pedras preciosas para ornar sua alma.

                                                                  * * *

Nessa situação encontrava-se ele quando adoeceu um frade do Convento de Santa Maria da Porciúncula. Vendo esse seu irmão enlanguescer no leito de enfermo, Frei Junípero lhe fazia freqüentes visitas, ajudando-o a vencer esse período de provação. Pôsse também à sua disposição como improvisado enfermeiro.

- Meu irmão, posso ajudar-te de alguma forma? Gostarias de algo para comer?

- Bem, gostaria muito de comer um pé de porco cozido, se for possível... - respondeu o doente.

Em sua ingenuidade e bom humor, Frei Junípero tomou com toda naturalidade esse estranho pedido.

- Deixa comigo! Logo trarei um pé de porco e o prepararei da maneira que quiseres!

Armado com uma grande faca de cozinha, Junípero foi para o bosque vizinho, onde encontrou uma manada de porcos se alimentando sob a vigilância atenta de um camponês. Sem qualquer hesitação, correu atrás de um, pegou-o e cortou uma de suas patas.

Retornando alegre, mandou o cozinheiro prepará-la e a serviu com bondade ao seu irmão doente. Enquanto este comia com grande apetite, Frei Junípero o entretinha com um divertido relato de como havia "capturado" o suíno e lhe cortado a pata.

                                                                   * * *

Entrementes, o guardador dos porcos partiu correndo, para contar a seu patrão o ocorrido. Este, muito irritado, foi insultar os frades, chamando-os de hipócritas, ladrões, bandidos e outros epítetos do gênero, por terem cortado uma pata de um de seus porcos. E afirmava que eles haviam feito isso "com deliberada malícia".

À vista do alvoroço levantado pelo dono do animal amputado, São Francisco procurou humildemente acalmá-lo, prometendo que lhe ressarciria o prejuízo. Ele, porém, longe de se tranqüilizar, proferiu muitas maldições e ameaças, repetindo sempre que o pé do porco havia sido cortado com "deliberada malícia"...

Enquanto os bons religiosos permaneciam em um silencioso assombro, São Francisco começou a desconfiar de que talvez o Irmão Junípero tivesse, por indiscreto zelo, sido o autor da censurável ação de que estavam sendo acusados os frades. Mandou chamar imediatamente o suspeito e lhe perguntou:

- Tu cortaste o pé de um porco no bosque vizinho?

Este, sem nada saber da comoção que tinha causado, contou com toda simplicidade a história inteira e acrescentou:

- Caro pai, saborear esse pé de porco fez tanto bem ao nosso irmão enfermo que eu não teria remorsos em cortar os pés de cem outros! São Francisco ficou triste e, com zelo pela justiça, exclamou:

- Oh, Irmão Junípero! Por que trouxeste esta desgraça sobre nós? Aquele homem talvez agora esteja reclamando de nós e destruindo nossa reputação pela cidade afora, tendo boas razões para tal! Portanto, eu te ordeno, em nome da santa obediência, que corras atrás dele até alcançá-lo. Jogar-te-ás aos seus pés, reconhecendo tua culpa, e prometerás ressarcir o prejuízo. Faze-o de tal maneira que ele não tenha mais razão para reclamar de nós, porque este foi certamente um erro muito sério.

- Meu pai, estai certo de que darei a este homem grande consolação.

                                                                 * * *

Com a mesma energia com a qual havia cortado o pé do porco, Frei Junípero saiu correndo, alcançou o lavrador e, comFREI JUNIPERO.JPG grande manifestação de alegria, lhe contou o motivo de sua ação, enfatizando o quanto o frade doente havia ficado contente ao comê-lo.

Para sua surpresa, o homem, em vez de aprovar essa "bela ação", mostrou-se muito mais enraivecido do que antes e o cobriu de insultos, chamando-o de ladrão, malfeitor, idiota e cabeça de burro!

Sereno e tranqüilo, Frei Junípero não conseguia compreender o motivo de uma tão grande ira. "Este homem não entendeu minha explicação", pensou ele. E contou-lhe de novo, com mais minúcias, o motivo pelo qual esperava que ele, em vez de se irar, aprovaria a amputação feita no seu suíno. Depois atirou-se ao pescoço do lavrador e acrescentou:

- Veja, meu bom senhor, fiz isso para atender um pobre doente. E o senhor, por meio do seu porquinho, ajudou- me a lhe dar saúde. E, por conseqüência, não ficará mais triste nem zangado, mas vamos alegrar-nos juntos e agradecer ao bom Deus que nos dá os frutos da terra e os animais dos campos, e quer que todos sejamos seus filhos e nos socorramos uns aos outros como bons irmãos. Não tenho razão? Diga, meu caro e excelente irmão!

Finalmente vencido por tanta simplicidade, sinceridade e boa vontade, o homem recobrou a calma, reconheceu que havia errado em insultar Frei Junípero e os outros frades, e pediu perdão a Deus e a eles. Tal foi sua mudança de sentimentos, que foi ao bosque, matou o porco, mandou assá-lo e o levou pessoalmente ao convento como presente para aqueles santos religiosos. 

Salvo por um amigo invisível

SALVO POR UM AMIIGO INVISIVEL.JPGAquela megera havia batido em Mateus com tanta força que o menino decidira fugir. Mas as janelas tinham grades e as portas estavam bem trancadas... Como sair da espelunca?

Stefanie Ellis Wegley.JPGStefanie Ellis Wegley

Matilde era uma jovem senhora, conhecida em toda a aldeia por sua caridade. Em sua casa, os mais necessitados sempre encontravam o que comer e suas roupas eram lavadas e remendadas com carinho. Além disso, a boa mulher procurava ensinar-lhes algum ofício para ajudá-los a sair da miséria.

Seu filho Mateus ainda não completara quatro anos. Matilde o educava com ternura e desvelo incomparáveis.

Desde muito cedo, ensinou-lhe a se encomendar sempre ao Anjo da Guarda antes de sair de casa. E o menino, piedoso e obediente, tomou por costume fazê-lo até quando saía ao jardim para brincar com o gato Mimoso. Gostava de repetir de memória, com as mãozinhas postas sobre o peito, a oração que a mãe lhe ensinara: "Meu Anjo da Guarda, minha doce ANJO DA GUARDA.JPGcompanhia, tu és o meu guarda e meu vigia. Meu Santo Anjo, meu grande Amigo, dize ao Senhor que quero ser bom e que sempre permaneça comigo. Guia-me pelo bom caminho, com todos os meus queridos. Amém".

Uma manhã ensolarada de inverno, Matilde ausentou-se de casa para atender a uma enferma. Mateus foi brincar ao ar livre com o gatinho e, antes de fazê-lo, encomendou-se ao seu guardião celestial.

Quando mais entretido estava com seus jogos, uma mulher loura, de fisionomia sorridente, chamou-o do outro lado do muro. Mimoso não gostou dela: retesou o corpo, mostrou as unhas e rosnou ameaçador. Mas Mateus o aquietou. Não era mamãe sempre bondosa com todos os que dela se aproximavam? Não tinha lhe ensinado a ser gentil com os desconhecidos?

Aproveitando a boa acolhida, a inesperada visitante logo começou uma conversa. Elogiou a beleza das plantas do jardim, o bem arranjado dos muros e janelas e, adivinhando logo o ponto fraco de Mateus, louvou o quanto pôde a dona da casa, afirmando que deveria ser, certamente, uma senhora muito afetuosa e diligente.

Conquistado o menino, a mulher lhe pediu para abrir o portão, ao que ele acedeu sem nenhuma desconfiança. Já dentro do quintal, aquela megera esforçou-se por tornar a conversa mais atraente. Indagou pelo nome da mãe, e perguntou a Mateus se não estava sentindo saudades dela.

- Sim! - respondeu ele em seguida. Mamãe sai muito pouco de casa sem mim... Quando o faz, me sinto tão sozinho!

Aparentando ter ficado emocionada pelas palavras do menino, a desconhecida osculou-o com fingido carinho, e ofereceu-se a levá-lo até "onde estava sua mãe". Mateus deu um pulo de alegria, estendeu sua mãozinha e se dispôs a acompanhá-la.

A boa Maria, ajudante de Matilde, que se encontrava na cozinha, nem chegou a ver aquela cena. Afanava-se nesse momento em preparar uma de suas deliciosas empadas de espinafre e cenoura que tanta fama lhe traziam...mas que tanto trabalho lhe davam.

Ainda estava em plena faina quando Matilde retornou e chamou pelo menino:

- Filhinho! Meu bem! Mamãe já voltou! Ninguém respondia...

Matilde insistiu, mas o silêncio continuava. Apenas se ouviam na casa o bater de panelas de Maria e os estranhos rosnados de Mimoso, nervoso por alguma razão desconhecida.

A cozinheira, percebendo que algo estranho se havia passado, teve um palpite e ficou gelada. Não tinha visto passar duas vezes pela frente da janela uma mulher loura, de esquisito sorriso? O que fazia ela por perto da casa? Não teria algo a ver com a desaparição da criança?

* * *

Dias depois, numa cidade não muito distante daquela aldeia, apareceu um menino sujinho, maltrapilho, cansado e com fome. Sentou- se na praça da Matriz, debaixo de uma grande árvore, e ali ficou chorando. Era de manhã muito cedo e não havia ninguém na rua, mas seus soluços não passaram despercebidos para frei Leonardo, que acabava de celebrar a Santa Missa. Saiu o frade da igreja para ver o que acontecia.

Ao se deparar com uma tão jovem criança, de grandes e vivos olhos negros, inchados de tanto chorar, tomou-se de pena e levou-o para a casa paroquial. Ali, uma senhora banhou-o, deulhe alimento e deixou-o dormir até recuperar completamente as forças.

Quando, depois de algumas horas, o menino despertou, frei Leonardo perguntou-lhe seu nome, de onde era, como se chamavam seus pais. O pobrezinho, porém, ainda traumatizado, pouco sabia responder. Só lembrava de ter por nome Mateus. Falava do seu gatinho Mimoso, do lindo jardim em que costumava brincar e, sobretudo, de sua extremosa mãe, doce e amorosa como nenhuma outra.

Narrou também como era feliz com ela, até que uma mulher má o arrancou da casa materna, trancando- o numa suja espelunca, da qual só saía para pedir esmolas. Nessa noite, aquela megera havia batido nele com tanta força, que tinha decidido fugir.

As janelas eram muito estreitas e tinham grades. As portas estavam bem trancadas. Mas rezou uma vez mais a oração que sua mãe lhe ensinara - "Meu Anjo da Guarda, minha doce companhia, tu és o meu guarda e meu vigia..." - e descobriu, então, que o cadeado de uma porteira lateral não tinha sido fechado...

IMAGEM.JPG
Quanto mais entretido estava Mateus com seus  jogos,
uma mulher loura, de fisionomia atraente chamou-o do
outro lado do muro

Ao ouvir a prece, o rosto do frade se iluminou, e pediu ao menino para repeti-la. Não era aquela a cândida e piedosa oração que rezavam as crianças de uma aldeia próxima, na qual tinha pregado missões há alguns meses?

* * *

No dia seguinte, a notícia chegou ao povoado de Matilde. Um menino chamado Mateus havia sido encontrado numa cidade não muito distante dali. Estava sujo e maltrapilho, mas não ferido, nem aleijado. Só falava de um gatinho chamado Mimoso e tinha saudades de sua mãe, que, segundo ele, era muitíssimo bondosa. Frei Leonardo, o monge que estivera pregando ali na aldeia durante a primavera, tinha-o encontrado na praça, e estava tomando conta dele...

Matilde não teve dúvida. Era o seu filhinho! Tinha de sair logo ao seu encontro!

* * *

O abraço entre Matilde e Mateus foi mais do que longo, quase interminável. Não paravam de se fitar e se agradar, e só de vez em quando cessavam momentaneamente seus mútuos carinhos, para juntos agradecerem a frei Leonardo ter cuidado com tanto esmero do pobre menino.

Chegada a hora da partida, o bom frade os reteve um instante. Levouos à igreja matriz, ajoelhou-se com eles diante do Santíssimo Sacramento e fê-los prometer solenemente que nunca deixariam de ter devoção àquele amigo invisível que salvara Mateus do infortúnio: o Anjo da Guarda!

 

 

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